terça-feira, fevereiro 01, 2005
Um belo ocaso
Guardador De Margens Enquanto a cidade inteira vai digerindo o seu jantar E todas as ruas e praças se lavam com essência de luar Enquanto as estátuas famosas bebem brandies e aveledas E as tílias se entreolham meigamente nas alamedas Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim Enquanto a meia-noite encerra mais uma sessão E o senso-comum ressona tranquilo e pesado no colchão Enquanto a cidade inteira lava os dentes e faz toilete E os taxistas recolhem as sombras que restam da noite Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim Enquanto a luz do promontório ensina a costa ao barqueiro E arde o rum forte no zimbório e traz lucidez ao faroleiro Vou pondo malha sobre malha com o labor dum tapeceiro Palavra, acorde, som, a talha e a devoção dum mestre-oleiro Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim Enquanto a cidade inteira vai feliz na sua faina E o sol boceja na ladeira ao som do martelo e da plaina Saúdo a bruma e o orvalho e a luz do dia madrugado Guardo as cartas no baralho meu sono é enfim chegado Vou guardando as margens Velando os lírios do jardim letra: Carlos Tê, música: Rui Veloso, 1983 Obrigado pela lembrança.
CAP @ 2/01/2005 01:19:00 da manhã
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