segunda-feira, fevereiro 06, 2006
De quem é isto? 1
Era já tempo. A torrente dos inimigos descera, enfim, do Calpe ou Gebal Tárique, cujo nome de muitos séculos o capitão árabe tinha apagado, para escrever o próprio nome no colar servil das muralhas que lhe lançara. O estandarte do profeta de Meca já flutuava nos campos da Bética, e a sua passagem era assinalada com ruínas, sangue e incêndios. Por onde quer que os muçulmanos tinham atravessado ficavam assentados o silêncio do sepulcro e a assolação do aniquilamento. Tárique era o anjo exterminador mandado por Deus às Espanhas, e a sua espada o raio despedido do céu para fulminar o império dos godos. Saindo do seu ninho de águia, construido no promontório do Estreito, os invasores internavam‑se no coração da província. Depois de haverem transposto as montanhas que se alteiam desde as ribas setentrionais do Bélon até Lastígi, onde as serranias se enlaçam com as alturas de Nescânia, tinham‑se assenhoreado sem resistência da cidade episcopal de Asido e, descendo dali para os vales que serpeiam de Gades a Segôncia, haviam assentado campo nas margens do Críssus. Tárique esperava lá o recontro dos godos. Desde que partira do Calpe, todos os dias, quase todas as horas, se viam chegar à hoste do Islame cristãos vindos do lado de Híspalis, conduzidos pelos caudilhos dos almogaures ou corredores africanos.
CAP @ 2/06/2006 07:56:00 da tarde
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