quarta-feira, junho 21, 2006
Dois anos depois, o suicídio
Passado Novembro, deitado na minha cama enorme
Pelo canto do olho, através da janela, vejo o hospital
Custa a crer que vou acabar por aqui
Mas estou só, e ainda por cima, cheio de dores
O meu corpo é um país em guerra à beira da derrota
O general do exército já só espera o pior
Tenho fome, tremo, demasiado fraco para me levantar
Iço a bandeira branca... acabou
Ouço o telefone, tenho amigos
Queria tanto poder levantar-me, falar-lhes
Dizer-lhes: Olá! Sou eu, estou bem, estou vivo
A terra gira, não o faria sem mim
O meu inimigo é arrogante e silencioso
Não quer saber se sou novo ou velho
Ele é seguro de si, metódico, não se apressa...
Está ao serviço da morte, desconhece os sentimentos
Estes últimos dias envelheci 4000 anos
Visitando velhas memórias de que não me orgulho
Para fazer as pazes com os seus arrependimentos é preciso tempo
Sinto-me cem vezes mais cansado, mas menos amargo
A história do mundo - e a minha - estão interligadas
Acabo de reviver cem mil outras vidas num segundo
Todas as minhas asneiras e a ambição da humanidade
Tudo é igual: não há culpados, não há vergonha
Mas estou feliz, pelo menos morro tranquilo
Vou recomeçar a minha outra vida do mesmo modo
Seguirei o instinto, serei fiel ao meu estilo
Um entendimento perfeito entre o meu coração e a razão
A harmónica não é um violino, não é a eternidade
E chora, como se estivesse consciente do seu destino
Aliás, uma tarde, dou-me ao luxo de chorar com ela
Espero um pouco, não tenho pressa; espero a morte
(tradução livre)
CAP @ 6/21/2006 10:59:00 da tarde
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